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Setembro Amarelo: 53 municípios do Mato Grosso criam fluxo de atendimento pela saúde mental de adolescentes


A ação integra o conjunto de respostas aos impactos na saúde emocional de adolescentes, agravado na pandemia, em uma agenda estratégica conduzida pelo Selo UNICEF.

Por Erlane Santos

Setembro Amarelo: 53 municípios do Mato Grosso criam fluxo de atendimento pela saúde mental de adolescentes

Escola Estadual Barão de Melgaço

Cuiabá - O cenário dos impactos à saúde mental de adolescentes, principalmente durante a pandemia, movimentou os 78 municípios do Mato Grosso que fazem parte do Selo UNICEF, edição 2021-2024. Os municípios, durante aproximadamente cinco meses, identificaram as principais demandas e necessidades em saúde mental de adolescentes, e mapearam equipamentos, projetos e recursos humanos de promoção à saúde. A ação integra um conjunto de estratégias do Selo UNICEF, edição 2021-2024,que visa melhorar os indicadores sociais ligados às infâncias e adolescências, e até o momento, 53 municípios concluíram este processo, que teve como resultado a criação do fluxo de atendimento à saúde mental para adolescentes. Este documento, por sua vez, norteará a implantação do serviço psicossocial especializado até 31 de dezembro de 2022.

 

O bem-estar psicológico é grande neste contexto de pandemia, que impacta a saúde emocional de crianças e adolescentes. Em agosto de 2022, estudantes entre 11 e 19anos ouvidos em pesquisa do Fundo das Nações Unidas pela infância (UNICEF), em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria(IPEC), afirmaram que é necessário que a escola ofereça atendimento de profissionais para apoio psicológico(80%), e espaços em que eles possam falar sobre os sentimentos (74%). Segundo os entrevistados, no entanto, esses dois itens nos três meses que antecederam a pesquisa, só foram oferecidos por 39% e 43% das escolas, respectivamente.

 

A psicóloga e Mestra em educação, Alessandra Xavier, da Universidade Estadual do Ceará, consultora responsável pela criação dos documentos auxiliares e formação das equipes técnicas dos municípios, para a criação dos fluxos em saúde mental no Selo UNICEF, reafirma que o papel da escola é fundamental no fortalecimento do bem-estar psicológico de meninos e meninas. “O ambiente escolar precisa ser acolhedor e oferecerproteção,recursosdefortalecimentodaautoestimaedeconfiançanacapacidadede resolver problemas”,declarouaconsultoraduranteaprimeiraaulavirtualdeconstruçãodo fluxo de saúde mental em junho de 2022.

 

 

Mobilização intersetorial pela saúde mental

 

 

Em Nova Xavantina (MT), o trabalho de construção do fluxo de saúde mental envolveu diversos profissionais das secretarias de saúde, educação e assistência social. O desenvolvimento desta política pública em rede já trouxe resultados valiosos para o município que tem acompanhado com muita atenção esta demanda. Segundo a psicóloga do CAPS, Fabricia Galindo, durante um ano, entre o final do primeiro semestre de 2021 e o início do segundo semestre de 2022, a demanda aumentou em dois momentos importantes. “Foram realizados 215 atendimentos de adolescentes neste período. Nós observamos que houve um aumento na demanda durante a campanha do setembro amarelo de 2021 e em março de 2022 quando ocorreu o retorno do ano letivo presencial”.

 

O município tem se empenhado para dar conta das demandas que chegam. O fluxo ajuda na organização das equipes e na prestação de um serviço mais ágil ehumanizado.AenfermeiradoCAPS,VivianeDunck,explicacomoaconstruçãodofluxo,por meio do Selo UNICEF, impactou positivamente o município. “Antes do selo Unicef, a demanda do município não tinha uma direção regulamentada sobre o fluxo do adolescente, de modo que o usuário fazia uma peregrinação entre a rede municipal, até encontrar o atendimento condizente a problemática apresentada e mais adequado ao caso. A instituição do fluxograma vem trazer a solução a esse problema. Com a rede municipal articulada, a demanda acolhida é orientada ao destino correto. A reestruturação da rede de saúde mental, com a contratação de novos profissionais e adequação do serviço foi o principal passo para essa conquista”, relata a profissional.

 

Outro município que também construiu recentemente seu fluxo de atendimento à saúde mental de adolescentes foi Figueirópolis d’Oeste. Segundo o psicólogo e mestre em saúde mental, Leonardo Martins Oliveira, “a atenção em saúde mental existia, porém não era realizada de forma intersetorial – e o selo UNICEF traz essa possibilidade de integração dos setores em prol das crianças e adolescentes ”.Atualmente no município o fluxo de atenção em

saúde mental vem sendo implementado com êxito. O psicólogo relembra o processo de criação do fluxo. “Foi uma ação em conjunto, onde resolvemos dividir o recebimento de demandas de atenção em saúde mental via CRAS/Saúde e Conselho Tutelar e a colhervia Projeto Integração (Rede de Educação). Após o acolhimento, é realizada avaliação da demanda com a equipe multiprofissional e vê-se a possibilidade de processo terapêutico com o profissional em saúde mental especializado”.

 

 

De modo especial, neste mês em que se celebra o Setembro Amarelo, a gestão municipal investiu na campanha de promoção à saúde mental nas escolas. No dia 23 de setembro, foram realizadas duas palestras com todos os alunos da Escola Estadual

Barão de Melgaço (essa escola é destinada a alunos que cursam a partir do sexto anodo ensino fundamental). O evento “A Vida é a Melhor Escolha” contou com dois palestrantes especialistas em saúde mental, o psicólogo Pablo Diego Ferras Monteiro e Leonardo Martins Oliveira, teve como temática aconscientizaçãosobreosuicídioeaimportânciadepedirajuda,alémdisso,foiabordado sobre primeiros socorros emocionais e estratégias de como prevenir o suicídio e lidar com momentos tristes e de incertezas. A iniciativa foi desenvolvida pelos setor es envolvidos com o Selo UNICEF (o prefeito Eduardo Flausino Vilela ,CMDCA, NUCA, ConselhoTutelar,SociedadeCivil,Secretariasde:Educação,Saúde,Assistência Social, Cultura, Esporte e Lazer, Meio Ambiente e Administração), em conjunto com o Secretário Municipal de Educação Nilson Marques da Silva e Articuladora Municipal do Selo UNICEF Rosane Antunes dos Santos e toda a equipe da Escola Estadual Barão de Melgaço.

 

 

Adolescentes e a saúde mental

 

 

A adolescente Mariana Bairros, de 16 anos, participa do Núcleo de Cidadania deAdolescentesdomunicípiodeNovaXavantina.Elarelataquesepreocupacomo

aumento de suicídios entre adolescentes e jovens. Por isso, busca manter-se informada sobre o assunto por meio de palestras, rodas de conversa e caminhadas que ocorrem no município sobre o tema. “A partir das iniciativas em que participei como adolescente do NUCA, eu pude perceber o quão importante é estar informado sobre saúde mental, depressão, ansiedade e suicídio, pois só com informação poderemos saber o que fazer e com quem contar quando estivermos passando por essas situações e até mesmo ajudar nossos amigos. Esses ensinamentos podem salvar vidas”, declarou a adolescente. 

Em Figueirópolis d’Oeste, Kevelly Vieira tem 15 anos e também participa do Núcleo de Cidadania de Adolescentes. A adolescente destaca alguns temas importantes a serem abordados em saúde mental, entre eles estão a separação dos pais, o abuso sexual, conflitos familiares, bullying, pressão para ser quem não é e para se encaixar nos padrões que a sociedade impõe, falta de apoio em casa e relacionamentos abusivos. Kevelly acredita que todo o adolescente deve ser empoderado para conhecer seus direitos, qualidades, capacidades e ser feliz. Por isso, ela dá o exemplo e participa ativamente de ações de promoção da saúde mental, e foi participando de uma palestra que mudou a visão que tinha sobre a depressão. “Vi como ela acontece e no que resulta. Vi que consigo ajudar alguém e também me auto ajudar, porque antes pensava que a depressão era uma doença incurável e esquecida”. Hoje, Kevelly faz a diferença fortalecendo a si mesma e aos seus amigos para que apesar das dificuldades, possam enfrentar os desafios com uma boa saúde mental.

 

Selo UNICEF

 

 

O Selo UNICEF é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)paraestimularereconheceravançosreaisepositivosnapromoção,realizaçãoegarantia dos direitos de crianças e adolescentes em municípios do Semiárido e da Amazônia Legal brasileira. Nesta edição, a saúde mental de crianças e adolescentes é um dos temas a serem trabalhados pelos municípios que aderiram à estratégia.

ParaacompanharasaçõesdoSeloUNICEF:www.selounicef.org.br